A voz do artista é baixa. É por meio de sua obra que o artista plástico Frans Krajcberg grita. "Grito contra as injustiças e a violência contra a vida, contra o homem, contra a natureza", diz. "Espero que este grito seja entendido."
A revolta de Krajcberg transforma em obra artística qualquer tronco de árvore queimada ou cipó arrancado de mangues e abandonado na praia. Não há como não ouvir o grito diante dos galhos que se abrem como braços decepados a pedir abrigo. Hoje, ele não gosta mais de viajar. "Há quatro anos fui ao Acre e chorei de tristeza, chorei como criança ao ver tanto massacre," lamenta. "Tem de mudar o nome de Mato Grosso, pois nem mato fino tem mais; tem que mudar o nome do Brasil porque pau-brasil não tem mais". A obra é o reflexo da vida. Filho de comerciantes judeus, Krajcberg nasceu em Kozienice, na Polônia, em 1921, no amargo rescaldo da 1.ª Guerra Mundial. A invasão da Polônia pela Alemanha, no início da 2.ª Guerra, pega-o longe de casa. Tinha 18 anos. Volta correndo, mas tarde. Nunca mais viu o pai, a mãe, os dois irmãos e as duas irmãs, presos e conduzidos para campos de concentração. "Sou um homem queimado", autodefine-se.
Chagall
Os anos de guerra o levaram para muitas regiões da Europa, como integrante de grupos de resistência. Terminado o conflito, já com a visão internacionalista das artes, ele segue justamente para Stuttgart, na Alemanha, para estudar com Willi Baumeister. Em 1947, está em Paris, sem trabalho e sem condições de estudar. É quando o Brasil, conhecido então como o Novo Mundo ganha Frans Krajcberg. Graças ao pintor Marc Chagall, que lhe paga a passagem de terceira classe.
Primeiro o Rio, depois São Paulo. Na capital paulista, consegue emprego, mas foram anos sofridos, sem projeção artística, com telas cinzas, quase monocromáticas, que reproduziam seu estado de espírito. A depressão tomou conta. A revolta cresceu. "Depois da guerra eu fugia do homem", lembra. O reencontro aconteceu em Telêmaco Borba (PR), na Fazenda Monte Alegre, da família Klabin, em 1952. "Foi o primeiro calor humano que eu tanto precisava", emociona-se. "Senti que estava perto de uma família." Na natureza encontrou respostas. "Ela me mostrou tudo e nunca me perguntou de onde vinha, que religião tinha, de que nacionalidade sou." Mas parte de sua nova família começou a ser dizimada na década de 50. Até agora, ele demonstrava sua revolta em exposições itinerantes. Espera que as permanentes gritem alto.
Texto adaptado de:http://www.parana-online.com.br/canal/direito-e-justica/news/62035/
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